Olhando pra Dentro de Mim

Estava lendo hoje um trecho do livro do Padre Fábio de Melo, "Quem Me Roubou de Mim?" Me identifiquei na posição de uma menina em um de seus relatos, pois vi como tenho perdido a minha vida por causa de outras pessoas, como tenho aceitado que me roubem de mim, como tenho aceitado as migalhas que me oferecem... Como o medo de dizer NÃO tem me feito regredir, tem me feito esquecer de como sou e tudo o que aprendi na vida. E esse medo de perder de vez tem me feito perder aos poucos... Através desse relato puder ver como toda a relação precisa de cuidados porque sempre transita nos limites entre o amor e a posse. E do amor à posse o caminho é curto. Basta que percamos o foco de nossa identidade para que corramos o risco de alguém administrar nossa vida, roubando-nos de nós mesmos. Isso tem me incomodado demais nesses últimos dias, tenho visto que realmente esqueci de quem sou, dos meus sonhos, expectativas, metas, desejos, enfim... Renunciei a mim mesma pra viver sempre em função de outras pessoas. Ouvi um frase do Pastor Neil Barreto que diz: " Não morremos quando a morte nos chega, mas quando os sonhos se vão." Tenho visto que tenho morrido aos poucos a cada dia, a cada renúncia, a cada NÃO que deixo de dar a alguém só pra agradar, ou por medo de perder. Isso tem me desfigurado, mudado minha essência, me afastado o que realmente sou e penso, e sinto e desejo. O fato de me tornar um objeto tem me desesperado, ver que hoje em dia o amor se reduziu a usar alguém pra mim é angustiante, frustrante e aterrorizante, pois quero poder olhar nos olhos de quem está comigo e ver que não sou um objeto de consumo, mas alguém que merece ser tratada com todo o carinho e respeito possível. Mesmo que pareça ser utopia, quero ser amada e cuidada, não usada e descartada conforme a vontade de outro alguém. Quero saber que meus sentimentos estão sendo respeitados e principalmente, que eles sejam valorizados. Essa angústia tomou ainda mais conta do meu ser quando passei por uma situação essa semana que me deixou completamente revoltada, pois vi que nem ao menos posso falar pra alguém o que tenho sentido. É triste ver que vc está só e que não poder sequer compartilhar c/ a pessoa que "está do seu lado" o que vc sente, o que pensa, o que deseja... Constatar que às pessoas perderam a capacidade de ouvir é algo muito ruim, perceber que se vc falar dos seus problemas pra outras pessoas elas te acham chata, careta, mala e que se vc fala algo, acaba sendo tachado de sonhador, de maluco. Pior que isso bate de frente com a minha realidade sempre, pois aprendi que ser e ter amigo é importante, que não devemos usar as pessoas, mas respeitá-las na sua individualidade e como parte de um todo e principalmente, que as dores são pra ser sofridas, vividas e compartilhadas e que isso tudo faz parte do processo de cura e de aprendizado pois a dor nada mas é que uma escola. Hoje é preferível vc dizer e escutar mentiras, por que a verdade machuca e incomoda mais, pois então será preciso enfrentá-la, e as pessoas hoje parecem que tem medo desse confronto consigo mesmo,parece que o seu verdadeiro eu machuca mais do que um personagem que acaba se criando pra fugir de si próprio. Mas mesmo que eu possa parecer uma louca aos olhos dos outros, não vou deixar que me roubem de mim... Quero poder sempre buscar chegar o mais próximo possível do meu verdadeiro EU pra ver se acaba essa doença na alma que tanto tem me feito mal, que tem me descaracterizado e me aprisionado. Vou sempre parecer maluca, mas não vou deixar de ter esperança, nem deixar de sonhar e principalmente, deixar de amar... Quero poder viver intensamente e poder olhar pra trás e dizer que pelo menos amar eu amei, mesmo que nunca tenha sido amada. "Amo como ama o amor, não conheço nenhuma razão para amar senão amar. O que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?" (Fernando Pessoa)